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Esta quarta-feira, 21 de janeiro, às 22h00, o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor acolhe a conceituada companhia belga les ballets C de la B. Alain Platel, criador já bem conhecido do público do CCVF, volta de novo a Guimarães agora com “tauberbach”, uma visão inquietante sobre o mundo e sobre nós.
Em “tauberbach”, Alain Platel vai buscar inspiração aos trabalhos de outros dois artistas: o documentário Estamira, de Marco Prado, que dá corpo a este espetáculo, e Tauber Bach, parte de um projeto do artista polaco Arthur Zmijewski em que um coro de crianças surdas cantam Bach. O resultado é um perturbante espetáculo com seis artistas em palco, um deles português (Romeu Runa), numa peça que se metamorfoseia entre a dança e o teatro num cenário decadente que nos remete para uma lixeira.
Estes dois projetos que inspiraram a peça que visita agora o Centro Cultural Vila Flor vão de encontro a um tema que tanto apraz a Platel, a decadência. Platel, como ninguém, ouve beleza na cacofonia, da mesma maneira que encontra beleza no que comummente percecionamos como feio, desviante, discordante, no que muitas vezes vemos como uma doença. A figura central de “tauberbach” é interpretada por Elsie de Brauw que veste a pele de Estamira, uma mulher que sofre de esquizofrenia e que vive e trabalha num depósito de lixo. Ela vai partilhando a sua visão do mundo e do homem por detrás de um olhar que não é o nosso, contudo não é menos verdadeiro do que o nosso.
Devido à doença mental de que sofria, Estamira torna-se uma figura extremamente carismática, com perspetivas filosóficas muito densas e com uma interpretação muito peculiar do mundo e das coisas. Por baixo das suas alucinações descansa um entendimento dos seus próprios traumas e uma forte lógica sobre si mesma. Na peça, as observações que a personagem principal nos oferece surgem fragmentadas e sugerem-nos vislumbres da verdade. Encontramo-nos assim num universo completamente diferente, num cenário apocalíptico, onde movimentos absurdos nos dão uma vaga reminiscência de uma sociedade há muito perdida, onde o coro de Bach e algumas peças de Mozart são as únicas réstias de alguma coerência.
“tauberbach” é, por isso, uma peça que nos impele à reflexão sobre onde vivemos e como vivemos, sobre como vemos o outro. Porque as nossas diferenças são, no fundo, aquilo que nos une e é com visões diferentes que enxergamos mais mundo. Sem dúvida uma oportunidade imperdível de rever uma companhia e um criador que têm sido acarinhados pelo público do CCVF e que já nos presentearam com espetáculos magníficos como “Gardenia” (2011) e “Out of Context – For Pina” (2010).
Os bilhetes para o espetáculo podem ser adquiridos na bilheteira do Centro Cultural Vila Flor e da Plataforma das Artes e da Criatividade, Lojas Fnac, El Corte Inglés, Worten, entidades aderentes da Bilheteira Online, e via online em www.ccvf.pt e oficina.bilheteiraonline.pt.