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Esta sexta-feira, dia 30 de setembro, às 22h00, a Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade, em Guimarães, é palco para a estreia absoluta da nova criação de António Fonseca e José Neves. Um projeto que parte de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, com música de Paulo Furtado.
“Força Humana” parte do desejo de encontrar, na vastidão do poema épico, as pistas de decifração do Portugal contemporâneo. Ler-lhe nas linhas e nas rimas o fado que transportamos e os riscos que aceitamos correr. Saber nele como é que alguns punhados de homens, na procura de superar mais um fim da história, podem lançar-se num espaço desconhecido e reinventar-se outros, complexos, grandes e mesquinhos, diligentes e aventureiros, convictos e inconscientes... Descobrir nele como ser grande no desespero. Como romper a linha da sobrevivência e encontrar o universo.
Nos quase nove mil versos de Os Lusíadas, poema para ser entoado e não analisado por gramáticos, como disse António José Saraiva, está uma música muito particular que é a língua portuguesa. A pedra de toque deste projeto assenta assim no trabalho de António Fonseca e José Neves, dois atores do prazer das palavras, dois intérpretes capazes de todas as buscas que uma personagem-povo pode propiciar. Depois ainda, a música das palavras dialoga com outras músicas, tão ou mais essenciais, através da partitura de Paulo Furtado, espécie de via múltipla entre uma música que viaja e os sons da contemporaneidade. Ou o espaço de F. Ribeiro povoado pelos figurinos de Nuno Gama, a conferir uma imagem surpreendente e contraditória.
Finalmente, tudo ecoa numa espécie de memória do presente e do futuro, num confronto entre o que encontramos na paisagem poética de Camões e os eventuais traços distintivos, identitários ou massificadores, de todos nós e de todos os outros que nos rodeiam e não vemos sequer, ou vemos como manifestações de um lugar exótico que não é o nosso.
“Força Humana” nasce da urgência da poesia, do desejo de ser que é próprio do teatro, da inquietude e da intangibilidade que emergem da música e da síntese entre unidade formal e rugosidade que vem da arte contemporânea.